domingo, 27 de novembro de 2011

Augustus Nicodemus. A igreja diante do mundo que a observa.

Neste livro o reverendo Augustus Nicodemus faz uma critica aos problemas enfrentados pela igreja em nossos dias. Ele focaliza principalmente o princípio da prática da pureza da igreja visível. Segundo ele estas questões podem ser reduzidas, de maneira lógica, a uma série de questões. A primeira delas é de que modo a impureza se infiltrou nas igrejas até chegar ao ponto em que se encontra? Segundo, por que os cristãos e as igrejas devem se preocupar com a pureza doutrinária? E terceiro como preservar a pureza doutrinária na prática?
No capitulo I, o autor traz até nós uma crítica histórica do liberalismo teológico. Ele descreve o surgimento do liberalismo e seus defensores. Em termos históricos, a transição da ortodoxia teológica para a atual teologia existencial se deu em três passos principais: o naturalismo moderno, o passo para o desespero e o passo para o misticismo moderno.
No período entre o Renascimento e a Reforma, a era Rousseau, Kant e Hegel, o tom dos pensadores seculares era otimista. Acreditavam que, com base no racionalismo, o ser humano poderia encontrar racionalmente uma resposta unificada para a vida e para o conhecimento como um todo. Augustus Nicodemos então afirma: “De acordo com racionalismo, conforme emprego o termo aqui, o ser humano pode compreender o universo começando por si mesmo, sem recorrer a nenhum conhecimento externo, mas especificamente, à revelação de Deus”. Ainda segundo Nicodemus, não devemos confundir nem permitir que sejamos confundidos com relação ao termo racionalismo e racionalidade. Apesar de parecer igual existe uma profunda diferença. Racionalidade significa que a razão é válida. Ou seja, se uma proposição é verdadeira, o oposto não é verdadeiro. Ou, no âmbito da moralidade, se determinada coisa é correta, seu oposto é errado. O liberalismo teológico estava impregnado do naturalismo moderno, conseqüentemente do racionalismo que tomou conta durante este período. No entanto os filósofos racionalistas seculares concluíram que, com base na razão não tinham como encontrar uma resposta unificada para a vida e para o conhecimento como um todo. Ou seja, a busca deles não deu em nada. O liberalismo teológico acabou seguindo os mesmo passos, ou seja, o desespero por ver sua busca não dar em nada. Após o fracasso do racionalismo os filósofos não cristão começaram então a admitir que era impossível explicar o homem olhando apenas para o homem, tendo em vista ser o homem um ser finito. Desenvolve-se portanto o conceito de “não razão” , uma tentativa do ser humano de encontrar significado e relevância fora da estrutura da racionalidade.
A teologia liberal surge, portanto dentro desse contexto. Um dos maiores defensores de tal teologia foi o teólogo  alemão Karl Barth que durante toda a sua vida sempre aceitou as teorias do criticismo histórico. Para ele, portanto, a Bíblia era repleta de erros.
Uma das características da teologia liberal é não deixar claro sua posição em relação a um determinado ponto. É totalmente possível e aceitável para um teólogo liberal achar verdade em fatos totalmente contraditórios. Em outras palavrars, para eles, em se tratando de “verdades religiosas” é possível uma pessoa dizer que Cristo é o único mediador entre Deus e o homem, e a outra pessoa dizer que Maria e os santos intercedem por nós – e ambas estarem certas.
No capitulo dois do livro o reverendo Augustus Nicodemus usa as diversas passagens bíblicas onde a igreja é colocada como a noiva de Cristo para enfatizar a questão do adultério espiritual, ou seja, a igreja deve-se manter pura como uma virgem que espera pelo esposo que neste caso é o próprio Cristo. Doutrinas que negam a existência de um Deus pessoal que intervém na historia da humanidade que não é simplesmente um Deus transcendente mas é também um Deus imanente, desvirtuam  da pura essência doutrinaria do cristianismo. É uma traição aos princípios básicos do cristianismo e portanto um adultério espiritual.
O capítulo três trata da prática da pureza na igreja visível. O autor começa afirmando que cristãos nascidos de novo, sejam eles reformados, luteranos, batistas, pentecostais, congregacionais, anglicanos ou qualquer outro apresentam certas características em comum. Uma delas é a incumbência de demonstrar, simultaneamente, a santidade e o amor de Deus. Ele diz: “na carne podemos enfatizar pureza sem amor ou amor de Deus sem pureza. Na carne, porém, é impossível enfatizar os dois simultaneamente. A fim de demonstrar ambos ao mesmo tempo, precisamos, a cada momento, da obra de Cristo, da obra do Espírito Santo.” A espiritualidade começa a adquirir sentido quando buscamos simultaneamente a santidade e o amor de Deus.
Por fim devemos ter consciência como disse o reverendo Augustus Nicodemus já Apêndice de que apesar de ser possível que cristãos genuínos discordem em certos pontos do pensamento cristão, existem limites absolutos que não podermos ultrapassar e, ainda assim, permanecer dentro da linha histórica do cristianismo. Quem ultrapassa esses limites “cai da beira do precipício” e não é mais cristão em determinado ponto. Por isso é necessário reconhecer alguns limites absolutos, ou seja, algumas verdades que não podem ser discutidas tais como a doutrina da trindade, das duas naturezas de cristo (divina e humana) da soberania de Deus, reconhecer Deus como o verdadeiro criador de todas as coisas, ou seja, Aquele que a partir do nada criou todas as coisas, em fim, doutrinas básicas das quais sem elas não existe cristianismo e o individuo que as nega não pode ser considerado cristão.

A Crise na Religião

Em sua carta aos Romanos Paulo escreve no capitulo 7 versos do 15 ao 19:  Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Vemos aqui neste trecho da carta do apóstolo Paulo aos Romanos que lei produziu convicção de pecado no homem e isso causou um efeito na mente do homem, do crente, do regenerado. No entanto, saber que é um pecador não assegura ao homem a santificação. Esse talvez seja um dos principais problemas por que passa o novo crente. Ter a consciência de que seus atos, antes feitos e vistos como sem maldade alguma, agora são vistos como atos pecaminosos e abomináveis para Deus.  Isso gera na mente do homem um sentimento de frustração muitas vezes por que ele sabe que por mais que tenta evitar o pecado ele sempre será um pecador. Nosso corpo, nossa natureza tem uma inclinação para o pecado e agora sei que devo lutar contra isso. E é por isso que Paulo vai de ser que faz o que odeia e omite fazer o que aprova, ou seja, o homem é um escravo do pecado. De modo que Paulo vai dizer:  “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim”, v. 17. Os atos de um escravo são de fato seus próprios atos; mas não sendo realizados com o pleno assentimento e ou consentimento de sua alma, eles não são testes justos do real estado de seus sentimentos.  
Paulo não é o único a desenvolver uma crise em sua vida cristã. Outros muitos personagens bíblicos revelam que em algum momento de sua vida sofreram uma forte crise, passaram por problemas onde chegaram a questionar sua fé e sua relação com Deus. Um desses personagens foi Jó. “Se pequei, que te farei, ó Guarda dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado? Jó 7:20” Por vários momentos Jó demonstra sua angústia diante da situação que esta passando. Ele questiona a Deus varias vezes.
Mas sem duvida alguma nenhum outro livro da bíblia expressa tão forte sentimento de crise quanto o livro de Salmos. Por vezes o salmista (em alguns casos o Rei Davi, visto que nem todos os salmos são de Davi) vai se lamentar por ser tão grande pecador. E ai mais uma vez entrar no dilema que Paulo passou de fazer aquele que não quer de omitir fazer aquilo que aprova. Alguns desse salmos que expressão bem o que aqui dizemos são:
                Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.   Salmos 51:2
                Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.  Salmos 51:3
Como vemos se no passado grandes homens de Deus tiveram momentos de profunda crise, sem duvida nós também passaremos pois todo homem que é regenerado pelo Espírito Santo de Deus e passa ter consciência do pecado não pode deixar de viver esta luta contra o pecado que em seu corpo e sufoca a sua alma.